terça-feira, 19 de outubro de 2010

A Banda

Acho graça de quem acha a vida simplista. Mas não recrimino.

É difícil,em algumas situações, ser menos fatalista do que o poema Ou Isto ou Aquilo de Cecília Meireles, o grito de Independência ou Morte de Dom Pedro, ou o Ser ou Não Ser de Shakespeare.

Depois de milhões de romances produzidos pelos estúdios de Hollywood, mil juras de amor de Vinícius de Moraes e todos os finais felizes dos contos de fadas, quem prefere aceitar que não há um momento em que - um dia - seremos felizes para sempre?

É muito mais prático - e ilusoriamente confortante - olhar apenas para o horizonte e acreditar na realidade plana, onde é sempre uma coisa ou outra. Mas a verdade é bem diferente. Aliás, que bom que é.

Se por um lado a simplicidade nos ajuda nas decisões, por outro é limitante. Nada é muito bom ou muito ruim e vivemos na superfície blasé. Essa ideia me causa repulsa. Doa o que doer, quero mergulhar na vida. Sentir cada momento triste e rir do máximo que puder. Não serei aquela cantada por Chico, a sentar na janela para ver a banda passar.

Eu vou é tocar tambor!

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Domingo

Era um dia comum. Não, pior: era domingo.

Chovia muito lá fora. A cama ainda desfeita lhe fazia um convite quase indecente, a televisão prometia entretenimento inútil pelo resto da tarde. O corpo brigava. Estava tão cansado da noite anterior que era inconcebível obedecer os comandos de levantar da cama, banhar-se e sair. Se bem que, comer era uma boa pedida.

Mas existia - e se exigia - o dever cívico. Jornalista iniciante, chefe de família cedo demais, sonhos e promessas. Nada grave porém, as piores promessas eram aquelas do horário eleitoral. Mas..fazer o que? Tinha que tentar fazer a diferença.

Saiu de casa achando que ia mudar o mundo. E quem mudou foi ele. Sem opção, ou por um lapso de atenção - difícil saber - achou que o intervalo de carros era suficiente para passar. Correu, e não deu. Não chegou ao outro lado, ficou ali mesmo. Ou foi o carro que veio rápido demais? Faz diferença agora? A mente confusa, novamente o corpo sem comando - agora por outros motivos - o medo e a espera.

Longa espera..quanto tempo já havia se passado? Lutava contra si mesmo, queria que alguém o escutasse falar. Será que ninguém o ouvia? Não estava gostando das novas condições que as circunstâncias lhe impunham.

Lidava com a incapacidade de agir, e nós, com a de ajudar.

Não foi dessa vez..


(* em homenagem a um amigo)