segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Licença poética

Já que a licença poética me permite – e esperando que Dado Villas-Lobos, Renato Russo e Renato Rocha não se ofendam – adaptei uma música para esse post (Quase sem querer).
***

Tenho andado distraída,impaciente e indecisa por quase toda a minha vida.
Ainda estou confusa, só que agora é diferente, estou tranqüila e também contente. Sei que ainda faltam coisas a mudar, mas alguns problemas não podem ser responsáveis por tudo.

Antes de perceber isso, quantas chances desperdicei, quando o que eu mais queria era provar pra todo o mundo que eu não precisava provar nada pra ninguém. Culpava os outros por minhas insatisfações, transferia as frustrações ao invés de lidar com elas.

Sempre me fiz em mil pedaços pra você juntar - esse você pode ser qualquer um, ou todos - eu queria sempre achar explicação pro que eu sentia.

Como um anjo caído, foi mais fácil esquecer que mentir pra si mesma é sempre a pior mentira. Acreditei tanto nisso que, depois de um tempo, nem sabia mais que aquilo não era verdade.

Mas não sou mais tão criança a ponto de saber tudo. Hoje tento não me preocupar se eu não sei o porquê. Aceitei que às vezes o que eu vejo, quase ninguém vê, e algumas pessoas me ajudaram a perceber, quase sem querer, que todo mundo tem suas pedras no caminho, o que muda é o sujeito. E eu sei que você sabe disso tudo.

Tão correto e tão bonito, o infinito é realmente um dos deuses mais lindos, pena que não pode ser alcançado, agora percebi isso e acho que posso ser mais livre. Sei que às vezes uso palavras repetidas, e palavras demais, mas quais são as palavras que nunca são ditas?

Me disseram que você estava chorando. E foi então que eu percebi que todos têm problemas, ninguém pode ser perfeito, e para ser feliz, era melhor não exigir tanto, e claro, como lhe quero tanto.

Eu quero o mesmo que vocês.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Davi e Golias

Estão adormecidos pelo amor e embalados pelo medo,
que paraliza as pernas e sela os lábios.
Não, a mente grita e o corpo implora,
mas o silêncio permanece ali, imóvel,
sem palavras, sem gestos, sem beijos.
Um prazer doloroso,
que acaricia enquanto bate, morde enquanto assopra.

E a sociedade permanece letárgica, na caverna de Platão,
a observar sombras e não corpos,
silhuetas e não formas,
borrões e não rostos.

Mas tem sempre um Davi a enfrentar Golias
e para nos despertar e ensinar uma saída da caverna.
Sempre um iluminado a buscar o mundo das ideias.
Então carregado pelas mãos de Davi,
Platão sai da caverna e vê o mundo.

Ele conhece as formas, gostos e também desgostos,
quando resolve votar à caverna pelos demais.
E qual é o seu desapontamento ao descobrir que as pessoas já conheciam o exterior
mas permaneciam imóveis ali,
A preferir sombras e não corpos,
silhuetas e não formas,
borrões e não rostos.

E quando perguntados porquê
responderam com uma sinceridade ignorante:
- Nem todos estamos dispostos a nos tornarmos Davi e enfrentar Golias.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Fôlego

As vezes o inimaginável se mostra tão possível que perco o fôlego.
Igual a uma criança mimada, fico prendendo a respiração até o máximo que posso, implorando pra que não seja verdade, enquanto estudo uma forma de reagir ao que me é exposto (ou imposto).

Na maioria dos casos, tudo bem. Mas e se já estamos quase transbordando?
Quais, dentre todas as imposições que sofremos, devemos suportar?

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Suíça

Até a sua adolescência, foi perfeitamente capaz de evitar o sim ou o não.
Quando pequena, sentia-se esperta por evitar brigas. Era sempre capaz de manter amigos por perto, ao se omitir.
Quando jovem, gostava de pensar que era neutra como a Suiça. E depois, com mais idade, adotou a ideia de que era místico escolher sempre o caminho do meio.
Até que, de uma hora para a outra, cresceu. E a irritava muito ter que escolher um lado da história.
Ah! Como ela gostava de responder não sei, ou vamos ver. Por que as coisas não poderiam continuar assim?, ela resmungava.
Até que ela conheceu alguém. E por essa pessoa valia a pena se esforçar, por mais que isso a irritasse.
Mesmo assim ceder era difícil. E ela resolveu se afastar por um tempo, achando que aquilo a faria bem.
Mas conforme o tempo passava e a saudade crescia, a dor só aumentava. E isso só tornava a confusão dentro dela maior.
Como mudar anos de tradição, por alguém novo?
Uma coisa, no entanto, ela havia descoberto. Por mais difícil que fosse tentar, ainda era melhor do que perdê-lo.
Então respirou fundo e resolveu encarar.
Caiu algumas vezes, se machucou, mas hoje ela já engatinha muito bem.
Daqui a pouco estará andando e ainda alimenta esperanças de um dia correr..

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Só quando criança

Queria crescer, sem perder a simplicidade infantil.
Ver o mundo de forma inocente
Ansiar pelas datas especiais como se a não chegada delas fosse pior que a morte
Gostava do tempo que as coisas demoravam pra passar
Da contagem regressiva para as férias
De arrumar a casa para o natal
E de encher a árvore de presentes e adivinhar os donos.
Gostava de esperar a chegada do novo ano, como se determinasse que a vida começava de novo
E depois que ele chegava, ah! como era bom ter uma nova chance
Gostava de acordar rezando por um dia bonito
Passar as manhãs de janeiro na praia, comendo milho
As tardes brincando de pique
E noites jogando baralho

Hoje passa tudo tão depressa, que quando ouvi na televisão que já estávamos em janeiro, tive medo.
O ano novo se aproximou tão rápido, que não comemorei com tanto entusiasmo quando a meia noite chegou.
E o natal foi um flash, que parece já ter passado há tempos.

Será que as coisas simples vão continuar a perde significado conforme envelheço?