quinta-feira, 7 de abril de 2011

Sem título.

Todos escreverão sobre o dia de hoje. E é preciso. Não tem como ficar calado diante de tanta dor. Todos se abatem. Até os insensíveis sofrem, os políticos choram, as mães gritam a perda de suas crianças; De nossas crianças.

O que significa a vida? Em dias como o de hoje, não sei responder. Em momentos como esse, tenho vontade de responder: nada. Diante da raiva, incompreensão, solidão, confusão do outro, a vida das crianças de nada valeu. E pior, foram todos para o mesmo lugar.

Em dias como hoje, a injustiça se faz presente, imponente, única. E todos os belos e vagos questionamentos a respeito da nossa existência se resumem a: Porque? E que teoria, sentimento, justificativa (!!) valida a crueldade da chacina de hoje?

Novamente, nada. é impossível não ser tomada pela solidão e sentimento de vazio quando se escuta, se vê, se presencia o que foi feito hoje. E também pela sensação de impotência.

Mas hoje acrescento à minha lista a sensação de culpa, de egoísmo. Quantas vezes, por motivos muito menores, não achamos que o mundo era injusto, que não valia a pena lutar, ou fazer algo para mudar a situação? Em quantos momentos não usamos o "Eu"? E quantas dessas vezes foi realmente necessário se colocar em primeiro lugar?

Situações como essa devem servir para, no mínimo, aprendermos a não aumentarmos nossos problemas, não nos julgarmos como os mais importantes, os mais inteligentes, os mais ricos, os mais sofridos. Porque diante de uma situação dessa, nada mais importa, nada mais tem valor, nada melhor poderia ser feito. O dinheiro não compra a vida dessas 11 crianças de volta: não indeniza seus pais, não consola seus colegas de turma.

Se o atirador tivesse sobrevivido, sua vida também não poderia ser trocada pela das crianças.

E já que nada pode ser feito, que sirva para que a gente invente menos problemas, brigue menos, dissemine menos a raiva, o ódio, a incompreensão, e dê o valor certo a cada coisa. Vamos fazer valer a vida dessas crianças para pelo menos alguma coisa...

terça-feira, 29 de março de 2011

Profissão: homem

Desde a minha última experiência carnavalesca venho pensando sobre a facilidade de ser homem. Sempre que comparo as vantagens práticas, me vejo cansada das picuinhas emocionais (e anatômicas) do universo feminino.

Detesto fazer unhas semanalmente, depilar a cada 15 dias, dar um trato no cabelo eventualmente, e ver sair do meu extrato bancário mais do que eu gostaria.

Para aumentar a pressão monetária, a pílula, um mal necessário, me tira, por mês, R$ 50 e, como se não bastasse, com a mesma regularidade chegam as cólicas.

Imagina ter o metabolismo mais acelerado, que não faça você engordar só de olhar pra comida, e para sair de casa, precisar apenas calça jeans e uma camiseta!

Queria fazer xixi de uma forma mais prática, andar sem blusa pela rua e conseguir sair de casa para jogar futebol (!!) e deixar o celular em casa. (Sem ficar neurótica e ansiosa pensando se alguém ligou).

Seria bom chegar na faixa dos 30 anos solteira e sem medo de não casar. Queria ser minoria e por isso ter sempre a certeza de que mesmo sendo baixinho, careca e feio, só ficarei sozinho se assim preferir.

E, acima de tudo, ser homem, na maioria das vezes, significa ser mais racional, fazer uma coisa de cada vez, e não perder a concentração pensando besteiras.

segunda-feira, 14 de março de 2011

A verdade do Cisne

Sabia que mais cedo ou mais tarde este post viria, apenas tentei evitar.
No entanto, desde que pensei nele, nada mais me inspirou. Não antes de escrevê-lo. Por isso a ausência. Precisava escrever sobre o filme Cisne Negro.

Entendo porque o filme, lindamente interpretado pela Natalie Portman, foi por vezes amado, ora indiferente às pessoas. Mas de alguma forma extremamente subjetiva, acho que ao invés de odiada, a história foi simplesmente não compreendida. E é este ponto que me deixa abismada.

Para uma perfeccionista como eu, tudo é muito claro. Como não entender, aceitar (e pasmem) até não se identificar com uma menina que quer se destacar, quer ter o papel principal, quer fazer tudo perfeito? Longe da identificação representar apenas os caprichos de uma menina mimada (que sou), acho que muitas pessoas já estiveram no lugar da personagem da Natalie Portman.

O filme faz uma metáfora com a dualidade da mente humana e transforma em realidade (intensa) os devaneios inconscientes de quem tenta ser perfeito, não ter falhas, ser aceito. Ora, essa não é a realidade de muita gente? Não é por isso que os sites de relacionamento, blogs e afins fazem tanto sucesso, porque neles podemos parecer felizes para sempre?!

Então não entendo como não ver semelhanças entre aquela bailarina insegura e nós mesmos. Claro que a história e os sentimentos daquela menina são exagerados, mas isso é arte, correto? Mesmo assim, acho que muitos rejeitam o filme porque tentamos parecer normais, porque temos medo de sermos malucos, ou taxados como tal.

Conheço pessoas que rejeitam o psicólogo. "Ah, isso é coisa de maluco", argumentam. Da mesma forma que não gostam do Cisne Negro. "Ah, falam tanto do filme, mas não é nada demais, apenas uma mulher maluca", opinam.

Ok, pode ser. Mas quem nunca surtou? Nunca teve dias ruins? Nunca se odiou? Nunca batalhou por nada e perdeu? Nunca muitas coisas?

Acho que está na hora das pessoas se permitirem mais e pararem de se conter, falarem mais a verdade para si mesmos. Afinal, o filme é perfeito em retratar o que o excesso de controle pode fazer conosco..fica a reflexão.

"Quem se diz muito perfeito, na certa encontrou um jeito insosso para não ser de carne e osso" (Zélia Duncan)

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Inconsciente

Há dias em que a manhã não liberta, atormenta. E os sonhos não relaxam, contraem. O que não existiu passa a ser mais relevante do que o real, e você gasta as horas a sonhar acordado.

O sonho berra aquilo que não dizemos, admitimos ou se quer pensamos. E quando acordamos, é como se estivéssemos despidos. Nestas ocasiões temo, mais do que nunca, o inconsciente.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Licença poética

Já que a licença poética me permite – e esperando que Dado Villas-Lobos, Renato Russo e Renato Rocha não se ofendam – adaptei uma música para esse post (Quase sem querer).
***

Tenho andado distraída,impaciente e indecisa por quase toda a minha vida.
Ainda estou confusa, só que agora é diferente, estou tranqüila e também contente. Sei que ainda faltam coisas a mudar, mas alguns problemas não podem ser responsáveis por tudo.

Antes de perceber isso, quantas chances desperdicei, quando o que eu mais queria era provar pra todo o mundo que eu não precisava provar nada pra ninguém. Culpava os outros por minhas insatisfações, transferia as frustrações ao invés de lidar com elas.

Sempre me fiz em mil pedaços pra você juntar - esse você pode ser qualquer um, ou todos - eu queria sempre achar explicação pro que eu sentia.

Como um anjo caído, foi mais fácil esquecer que mentir pra si mesma é sempre a pior mentira. Acreditei tanto nisso que, depois de um tempo, nem sabia mais que aquilo não era verdade.

Mas não sou mais tão criança a ponto de saber tudo. Hoje tento não me preocupar se eu não sei o porquê. Aceitei que às vezes o que eu vejo, quase ninguém vê, e algumas pessoas me ajudaram a perceber, quase sem querer, que todo mundo tem suas pedras no caminho, o que muda é o sujeito. E eu sei que você sabe disso tudo.

Tão correto e tão bonito, o infinito é realmente um dos deuses mais lindos, pena que não pode ser alcançado, agora percebi isso e acho que posso ser mais livre. Sei que às vezes uso palavras repetidas, e palavras demais, mas quais são as palavras que nunca são ditas?

Me disseram que você estava chorando. E foi então que eu percebi que todos têm problemas, ninguém pode ser perfeito, e para ser feliz, era melhor não exigir tanto, e claro, como lhe quero tanto.

Eu quero o mesmo que vocês.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Davi e Golias

Estão adormecidos pelo amor e embalados pelo medo,
que paraliza as pernas e sela os lábios.
Não, a mente grita e o corpo implora,
mas o silêncio permanece ali, imóvel,
sem palavras, sem gestos, sem beijos.
Um prazer doloroso,
que acaricia enquanto bate, morde enquanto assopra.

E a sociedade permanece letárgica, na caverna de Platão,
a observar sombras e não corpos,
silhuetas e não formas,
borrões e não rostos.

Mas tem sempre um Davi a enfrentar Golias
e para nos despertar e ensinar uma saída da caverna.
Sempre um iluminado a buscar o mundo das ideias.
Então carregado pelas mãos de Davi,
Platão sai da caverna e vê o mundo.

Ele conhece as formas, gostos e também desgostos,
quando resolve votar à caverna pelos demais.
E qual é o seu desapontamento ao descobrir que as pessoas já conheciam o exterior
mas permaneciam imóveis ali,
A preferir sombras e não corpos,
silhuetas e não formas,
borrões e não rostos.

E quando perguntados porquê
responderam com uma sinceridade ignorante:
- Nem todos estamos dispostos a nos tornarmos Davi e enfrentar Golias.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Fôlego

As vezes o inimaginável se mostra tão possível que perco o fôlego.
Igual a uma criança mimada, fico prendendo a respiração até o máximo que posso, implorando pra que não seja verdade, enquanto estudo uma forma de reagir ao que me é exposto (ou imposto).

Na maioria dos casos, tudo bem. Mas e se já estamos quase transbordando?
Quais, dentre todas as imposições que sofremos, devemos suportar?

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Suíça

Até a sua adolescência, foi perfeitamente capaz de evitar o sim ou o não.
Quando pequena, sentia-se esperta por evitar brigas. Era sempre capaz de manter amigos por perto, ao se omitir.
Quando jovem, gostava de pensar que era neutra como a Suiça. E depois, com mais idade, adotou a ideia de que era místico escolher sempre o caminho do meio.
Até que, de uma hora para a outra, cresceu. E a irritava muito ter que escolher um lado da história.
Ah! Como ela gostava de responder não sei, ou vamos ver. Por que as coisas não poderiam continuar assim?, ela resmungava.
Até que ela conheceu alguém. E por essa pessoa valia a pena se esforçar, por mais que isso a irritasse.
Mesmo assim ceder era difícil. E ela resolveu se afastar por um tempo, achando que aquilo a faria bem.
Mas conforme o tempo passava e a saudade crescia, a dor só aumentava. E isso só tornava a confusão dentro dela maior.
Como mudar anos de tradição, por alguém novo?
Uma coisa, no entanto, ela havia descoberto. Por mais difícil que fosse tentar, ainda era melhor do que perdê-lo.
Então respirou fundo e resolveu encarar.
Caiu algumas vezes, se machucou, mas hoje ela já engatinha muito bem.
Daqui a pouco estará andando e ainda alimenta esperanças de um dia correr..

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Só quando criança

Queria crescer, sem perder a simplicidade infantil.
Ver o mundo de forma inocente
Ansiar pelas datas especiais como se a não chegada delas fosse pior que a morte
Gostava do tempo que as coisas demoravam pra passar
Da contagem regressiva para as férias
De arrumar a casa para o natal
E de encher a árvore de presentes e adivinhar os donos.
Gostava de esperar a chegada do novo ano, como se determinasse que a vida começava de novo
E depois que ele chegava, ah! como era bom ter uma nova chance
Gostava de acordar rezando por um dia bonito
Passar as manhãs de janeiro na praia, comendo milho
As tardes brincando de pique
E noites jogando baralho

Hoje passa tudo tão depressa, que quando ouvi na televisão que já estávamos em janeiro, tive medo.
O ano novo se aproximou tão rápido, que não comemorei com tanto entusiasmo quando a meia noite chegou.
E o natal foi um flash, que parece já ter passado há tempos.

Será que as coisas simples vão continuar a perde significado conforme envelheço?